Situado na cidade de Ílhavo, o Navio-Museu Santo André é uma das estruturas marítimas mais emblemáticas de Portugal, preservando parte do legado ligado à pesca do bacalhau nos mares gelados da Terra Nova e da Gronelândia. Esta embarcação histórica foi transformada num museu flutuante, permitindo aos visitantes recuar no tempo e viver de perto a realidade dos pescadores portugueses de outros tempos. Neste artigo, vamos explorar em profundidade a história do navio, o seu papel na pesca longínqua e o seu atual contributo como centro educativo e cultural. Descubra como o Santo André preserva a memória marítima nacional e continua a inspirar novas gerações.
O Navio-Museu Santo André: um símbolo vivo da pesca do bacalhau
O Navio-Museu Santo André é uma traineira assinada pelo estaleiro holandês Gebr. Niestern Sander, construída em 1948, e que durante décadas navegou pelos mares do Atlântico Norte em campanhas de pesca ao bacalhau. A embarcação foi propriedade da Empresa de Pesca de Aveiro (EPA), uma das mais importantes frotas portuguesas dedicadas à pesca longínqua. Com cerca de 71 metros de comprimento, o navio operava no sistema de pesca por arrasto, uma tecnologia que veio modernizar e tornar mais eficiente a captura do "fiel amigo", como é conhecido o bacalhau em Portugal.
Ao contrário dos antigos lugres à vela, que dependiam parcialmente do trabalho manual dos dóris — pequenos barcos onde os pescadores lançavam as linhas para pescar — o Santo André representa uma nova geração de embarcações que surgiu a partir da década de 40 do século XX. Estas traineiras a motor, equipadas com tecnologia mais avançada, como guinchos e sistemas mecânicos de arrasto, permitiam capturas em maior escala e proporcionavam melhores condições de trabalho e vida aos homens embarcados.
Em cada campanha, a tripulação era composta por dezenas de homens, incluindo pescadores, cozinheiros, maquinistas e oficiais. O ambiente a bordo era duro e os períodos longe de casa podiam durar vários meses. No entanto, a pesca do bacalhau era também vista como uma oportunidade de sustento e promissora fonte de rendimento para muitos homens das zonas costeiras do país, especialmente das regiões de Aveiro, Figueira da Foz e Viana do Castelo.
Depois de décadas ao serviço, com uma vida ativa até aos anos 90, o Santo André foi aposentado, mas a sua importância histórica e identitária levaram à sua transformação num navio-museu. Em 2001, o navio foi adaptado para receber visitantes, tornando-se parte integrante do Museu Marítimo de Ílhavo, uma instituição de referência dedicada ao mar, à pesca e às tradições marítimas de Portugal.
Uma visita ao navio-museu: história, memória e educação
O Navio-Museu Santo André está atualmente ancorado na região da antiga Docapesca, em Ílhavo. A visita ao navio proporciona uma verdadeira imersão na vida a bordo, permitindo percorrer corredores estreitos, salas de máquinas, camarotes, cozinha, refeitório e até o convés onde se realizava a descarga do bacalhau.
O percurso museológico é cuidadosamente estruturado para transmitir de forma autêntica o quotidiano dos pescadores e o ambiente vivenciado durante as longas campanhas. São recriados sons, cheiros e até simulações audiovisuais que transportam o visitante para o interior da vida no mar. Um dos espaços mais impressionantes é o porão do peixe, onde os bacalhaus eram armazenados em gelo para garantir a sua conservação até ao regresso a terra. Cada compartimento conta com painéis explicativos, fotografias de época e objetos originais utilizados pela tripulação, como vestuário, utensílios de cozinha e instrumentos de navegação.
Além do seu valor histórico, o navio-museu tem também uma missão educativa e cultural. Regularmente, são organizadas visitas guiadas para escolas, workshops e atividades pedagógicas relacionadas com as ciências do mar, a história da pesca e a sustentabilidade dos oceanos. Esta vertente educativa é especialmente alinhada com os objetivos do Museu Marítimo de Ílhavo, proporcionando aos mais jovens uma oportunidade de aprenderem de forma prática e interativa sobre um dos setores económicos mais importantes do passado português.
O Navio-Museu Santo André funciona ainda como palco de exposições temporárias, integrando-se numa rede de instituições museológicas marítimas que procuram manter viva a ligação do povo português ao mar. A sua presença evoca memórias de sacrifício, coragem e resiliência — valores profundamente enraizados na cultura marítima nacional.
Para quem visita Ílhavo, a paragem no Santo André não é apenas uma viagem pelo passado, mas também um convite à reflexão sobre o futuro das comunidades piscatórias e do aproveitamento sustentável dos recursos marinhos. O projeto de musealização do navio é, por isso, não só um tributo à história como também uma ferramenta poderosa para a consciencialização social e ambiental.
O acesso ao navio pode ser feito através do bilhete conjunto com o Museu Marítimo de Ílhavo, oferecendo aos visitantes uma visão integrada da história marítima portuguesa. Este património continua a ser revitalizado através de manutenção constante e atividades culturais que reforçam a sua presença na vida ativa da cidade.
Visitar o Navio-Museu Santo André é assim mais do que uma simples incursão turística: é entrar em contacto com o espírito dos navegadores, sentir o peso da tradição e compreender melhor o que significa ser um povo moldado pelo mar.
O Navio-Museu Santo André simboliza a rica herança marítima de Portugal e a evolução da pesca do bacalhau ao longo do século XX. Transformado num museu flutuante, este navio oferece uma experiência imersiva que alia a preservação da memória histórica à promoção do conhecimento e à educação das futuras gerações. Localizado em Ílhavo e integrado no Museu Marítimo, é um espaço de cultura, educação e homenagem aos homens do mar. Uma visita ao Santo André é uma forma de conhecer melhor o ADN marítimo português e reforçar o valor do nosso património náutico para o futuro.