A cidade de Aveiro é conhecida pelos seus canais, ovos moles e arquitetura Art Nouveau. No entanto, entre os muitos tesouros culturais que esta cidade portuguesa oferece, destaca-se o Museu de Santa Joana, um espaço emblemático que combina história, arte sacra e uma envolvente espiritual singular. Neste artigo, vamos explorar em profundidade o Museu de Santa Joana, a sua história, o vasto espólio artístico e o papel crucial que desempenha na promoção do património religioso e cultural da região. Uma verdadeira referência no panorama museológico nacional, o museu é visita obrigatória para quem procura compreender melhor as raízes históricas de Aveiro e de Portugal.
História e significado do Museu de Santa Joana
O Museu de Santa Joana, oficialmente denominado Museu de Aveiro/Santa Joana, está instalado no antigo Mosteiro de Jesus, fundado no século XV. Este mosteiro pertencera à Ordem Dominicana e foi um importante centro de espiritualidade e erudição durante séculos. No coração deste espaço viveu e morreu a Princesa Santa Joana, filha do rei D. Afonso V, que abdicou de uma vida na corte para se dedicar à vida religiosa, tornando-se um símbolo de devoção e renúncia.
A história do museu está intrinsecamente ligada à figura de Santa Joana Princesa, que teve uma enorme influência religiosa e social durante o seu tempo e cujos restos mortais repousam numa capela ricamente ornamentada no próprio museu. Beatificada em 1693 pelo Papa Inocêncio XII, Santa Joana atrai fiéis e curiosos que desejam conhecer mais sobre a sua vida e legado.
Transformado em museu após a extinção das ordens religiosas em Portugal, no século XIX, o edifício passou por diversas fases de adaptação até alcançar o estado atual. Hoje, o Museu de Santa Joana destaca-se pela preservação da arquitetura monástica original, complementada por um cuidadoso restauro que permite aos visitantes sentirem de forma vívida a austera beleza do local.
A importância do museu vai além do contexto regional; é reconhecido nacionalmente como um dos exemplos mais relevantes de musealização de espaços religiosos. O modo como a coleção está organizada respeita o propósito espiritual do mosteiro, preservando a sua essência ao mesmo tempo que o torna acessível ao público contemporâneo.
O museu também desempenha um papel educativo importante. Desenvolve atividades pedagógicas para escolas, visitas temáticas guiadas e exposições temporárias que enriquecem o diálogo entre o passado e o presente. É um espaço vivo, que respeita a tradição mas abre-se à contemporaneidade.
Espólio e características do acervo museológico
O acervo do Museu de Santa Joana é, em grande parte, composto por arte sacra, refletindo a origem monástica do edifício. A coleção inclui peças datadas entre os séculos XIV e XIX, abrangendo diferentes estilos artísticos como o gótico, o renascentista, o maneirista, o barroco e o rococó.
Destacam-se as seguintes categorias de objetos:
- Escultura religiosa: com representações da Virgem Maria, santos e figuras bíblicas, muitas delas usadas em práticas devocionais.
- Pintura sacra: incluindo painéis de retábulos, retratos de figuras religiosas e obras com influências de escolas portuguesas e europeias.
- Têxteis litúrgicos: com belos bordados feitos por freiras dominicanas que demonstram mestria e dedicação.
- Ourivesaria: com cálices, custódias e relicários valiosos em prata dourada, monumentos de fé e arte.
- Mobilário e talha: peças de madeira entalhada e dourada, muitas delas pertencentes aos altares e celas do antigo mosteiro.
Um dos pontos altos da visita é a visita ao túmulo de Santa Joana Princesa, situado na capela construída de propósito para abrigar os seus restos mortais. Este espaço é um verdadeiro santuário, ornamentado com azulejaria portuguesa do século XVIII e com uma atmosfera de recolhimento impressionante. A capela é uma das obras-primas do barroco nacional, não apenas pela beleza artística, mas também pelo seu simbolismo espiritual.
Outra área de grande interesse é o claustro renascentista, com colunas trabalhadas e espaços ajardinados que conferem tranquilidade e encanto ao percurso. Este espaço convida à contemplação, sendo frequentemente utilizado para pequenas exposições ou eventos culturais.
Entre as exposições temporárias, o museu convida artistas contemporâneos a dialogar com a espiritualidade do espaço, criando instalações e projetos que renovam o interesse sobre o sagrado e o intemporal. Esta iniciativa insere o museu no mapa da arte contemporânea, tornando-o um polo de inovação e não apenas de conservação.
Além disso, o museu tem investido nas novas tecnologias para valorização do seu acervo. Audioguias, painéis interativos e visitas virtuais permitem uma fruição mais rica para os diferentes perfis de visitantes, desde eruditos até famílias em passeio.
A loja do museu e o centro de interpretação oferecem materiais educativos, publicações especializadas e produtos exclusivos associados à tradição monástica e à figura de Santa Joana, contribuindo para a valorização e difusão do seu património.
Mesmo para quem não professa fé religiosa, a visita ao Museu de Santa Joana proporciona uma viagem pela história de Portugal, pela arte europeia e pelas vidas das mulheres que optaram pelo recolhimento como forma de realização pessoal e espiritual. É um testemunho poderoso da força do feminino num contexto profundamente religioso e patriarcal.
Por fim, a sua localização central em Aveiro, próxima de outros pontos de interesse como o Jardim do Rossio, os canais e a Sé de Aveiro, fazem do museu uma paragem obrigatória para qualquer roteiro turístico ou cultural na cidade.
O Museu de Santa Joana em Aveiro é muito mais do que um espaço expositivo; é um local onde a história, a espiritualidade e a arte se interligam de forma genuína. Ao explorar o antigo Mosteiro de Jesus, os visitantes têm a oportunidade de mergulhar num universo rico em simbolismo e beleza, onde cada peça e cada sala contam uma parte da história de Portugal e da vida religiosa feminina. Seja pelo interesse histórico, artístico ou espiritual, o museu oferece uma experiência memorável e enriquecedora, consolidando-se como um dos mais relevantes do panorama museológico português.
