Situado na vila piscatória de Cascais, o Museu do Mar Rei Dom Carlos I é uma referência incontornável no panorama museológico português. Dedicado ao mar, à pesca, às tradições marítimas e aos estudos oceanográficos, este espaço combina história, ciência e cultura numa experiência imersiva. Com uma ligação profunda ao legado do Rei Dom Carlos I, o museu honra não só a tradição marítima de Cascais, mas também o pioneirismo da investigação oceanográfica em Portugal. Neste artigo, vamos explorar a história do museu, os destaques da sua coleção e o seu papel na preservação da identidade marítima portuguesa.
Um legado real dedicado ao mar
O Museu do Mar Rei Dom Carlos I deve o seu nome a uma das figuras mais emblemáticas da monarquia portuguesa: Dom Carlos I. Conhecido pelo seu interesse pelas ciências, o monarca foi um dos primeiros oceanógrafos portugueses, tendo desenvolvido importantes estudos sobre a fauna e flora marinha costeira de Portugal. Este espírito científico foi herdado pelo museu que leva o seu nome, fundado no antigo edifício do Clube Naval de Cascais, tendo sido inaugurado em 1992.
A escolha de Cascais para acolher este museu não foi feita ao acaso. Durante o século XIX, a vila tornou-se um ponto central de veraneio da família real, que ali encontrava a tranquilidade e contacto com o mar. Foi também nesta costa que o rei Dom Carlos I realizou as suas primeiras campanhas oceanográficas, utilizando equipamento moderno para a época e recolhendo dados científicos que ainda hoje são considerados pioneiros.
O museu organiza-se em várias secções temáticas que abordam diferentes aspetos da relação entre o mar e a sociedade portuguesa. Desde as técnicas tradicionais de pesca e a vida dos pescadores de Cascais até à biodiversidade marinha e ao contributo científico do rei, todas as áreas estão interligadas por um fio condutor comum: a importância do mar na história e identidade de Portugal.
Uma das peças centrais da exposição é o espólio relacionado com as campanhas oceanográficas de Dom Carlos I. Estão presentes réplicas dos seus instrumentos científicos, mapas das rotas percorridas e exemplares das espécies recolhidas. O visitante pode também visualizar documentos originais, cartas náuticas e manuscritos do próprio rei, o que confere uma autenticidade única à experiência museológica.
Ao lado desta componente científica, o museu dedica igualmente atenção às comunidades locais ligadas ao mar. Através de fotografias de época, maquetes de embarcações, trajes de pescadores e relatos orais recolhidos no seio da comunidade, é possível compreender o quotidiano das gentes de Cascais e como o mar moldou as suas vidas, tradições e festividades.
Uma ponte entre ciência, cultura e identidade marítima
A missão do Museu do Mar Rei Dom Carlos I vai além da simples preservação de objetos e documentos. Tem como objetivo cultivar uma consciência crítica e informada sobre o papel central que o oceano tem desempenhado ao longo dos séculos na formação da identidade nacional. Num país com mais de 800 km de costa, onde as descobertas marítimas marcaram de forma inequívoca a sua projeção no mundo, o conhecimento do mar é uma extensão natural da cidadania portuguesa.
Não é por acaso que o museu aposta fortemente na vertente educativa. São frequentemente realizadas visitas guiadas, oficinas pedagógicas, colóquios e exposições temporárias destinadas a públicos de diferentes idades. As escolas da região de Lisboa e da linha de Cascais são presença assídua, usufruindo de atividades concebidas para despertar o interesse pelas ciências marinhas e pela história local.
Outro aspeto distintivo do museu é a sua colaboração com instituições científicas e culturais, nomeadamente o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e a Sociedade de Geografia de Lisboa. Esta rede de contactos permite que o museu se mantenha atualizado em termos de investigação e enriqueça, de forma contínua, o seu acervo e as suas iniciativas.
Em termos museográficos, o espaço aproveita os recursos tecnológicos mais atuais para proporcionar uma experiência imersiva. Vídeos interativos, ambientes sonoros e painéis tácteis ajudam a contextualizar os temas abordados e a tornar a visita mais acessível. Destaca-se, por exemplo, uma sala onde os visitantes podem "mergulhar" digitalmente nos oceanos atlânticos ao largo da costa portuguesa, observando as espécies marinhas e os ecossistemas submarinos através de projeções 3D.
Por fim, é importante sublinhar a relevância do museu na estrutura cultural e turística de Cascais. Aliando património, conhecimento e sensibilização ambiental, o Museu do Mar é uma paragem obrigatória para quem visita a vila. Não apenas pela riqueza dos seus conteúdos, mas pela forma como promove uma reflexão profunda sobre a relação histórica, económica e simbólica dos portugueses com o mar.
Além de ser um espaço de memória, é também um laboratório vivo que nos convida a pensar o futuro: como vamos gerir os nossos recursos marinhos? Como preservaremos os ecossistemas costeiros face às alterações climáticas? E que papel cabe ao cidadão comum na proteção do nosso oceano? São perguntas que o museu coloca — diretamente ou entre linhas — e que o visitante leva consigo, dando ao espaço uma dimensão ética e transformadora.
O Museu do Mar Rei Dom Carlos I é mais do que um simples museu temático localizado em Cascais. É um centro de conhecimento que celebra o mar em toda a sua amplitude — como fonte de vida, via de comunicação, espaço de trabalho e objeto de estudo científico. Através das suas exposições, programas educativos e constante ligação à comunidade, cumpre a missão de preservar o legado marítimo nacional e de o transmitir às gerações futuras, mantendo viva a memória de uma nação moldada pelo oceano.